Durante metade de sua vida, o dramaturgo Zé Celso – que morreu nesta quinta-feira (6) aos 86 anos após ferir-se gravemente em um incêndio – travou uma dura batalha judicial com o empresário e apresentador Silvio Santos.
Fundado por Zé Celso, o Teatro Oficina Uzyna Uzona, localizado na região do Bixiga em São Paulo, foi construído próximo a uma área pertencente ao Grupo Silvio Santos desde os anos 80 – e, quando a instituição manifestou intenção de construir edifícios ali, o dramaturgo entrou na justiça contra o empresário.
Entenda a briga judicial de Zé Celso e Silvio Santos, sua repercussão e consequências do processo para os artistas.
Zé Celso e Silvio Santos têm briga judicial há 4 décadas
Apesar de não ter terminado o curso que começou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Zé Celso tirou dali um de seus maiores feitos. Integrante do Centro Acadêmico 11 de Agosto, ele e outros colegas criaram a Companhia Teatro Oficina – que, em 1961, foi oficialmente profissionalizada, ganhando um edifício antigo no Bixiga, em São Paulo, como sede.
Ao longo dos anos, o Teatro Oficina passou por diversas reformas e, nos anos 90, ganhou a aparência que tem até hoje, cujo projeto foi feito pela arquiteta Lina Bo Bardi, responsável também pelo projeto do Museu de Arte de São Paulo. Desde meados dos anos 80, o prédio é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), e desde 2010 nas esferas federal, estadual e municipal.
O Teatro Oficina, porém, não é o único local de grande importância na região. Isso porque, ao lado do teatro, há um terreno que pertence ao Grupo Silvio Santos – e a ideia do apresentador de construir três prédios ali deu início a uma briga de mais de 40 anos entre ele e Zé Celso.
Após comprar a área na década de 80, o grupo do dono do SBT tinha a intenção de construir três edifícios de até 100 metros, algo que, segundo Zé Celso, prejudicaria as atividades do Teatro Oficina e desconfiguraria o projeto de Bo Bardi. Levando de argumento o fato do edifício ser tombado (o que exige a preservação das características do local e delimita uma área protegida em seu entorno, Zé Celso entrou então na justiça.
Ao longo dos 43 anos seguintes, ambos os lados obtiveram vitórias. Em 2016, o Condephaat vetou a construção das torres no terreno vizinho afirmando que o projeto impediria a vista do teatro para a cidade de São Paulo, atributo pelo qual o edifício é bastante conhecido por proporcionar.
Já em 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério da Cultura, ofereceu um parecer favorável à construção ao Grupo Silvio Santos – algo que foi vetado pela Justiça em 2022. A instituição do apresentador, na sequência, recorreu à segunda instância.
Durante todo o processo, Silvio Santos e Zé Celso se reuniram pessoalmente para tentar chegar a um acordo sobre o terreno. Uma das mais recentes, inclusive, foi mediada pelo então prefeito de São Paulo, João Doria, mas ele não teve um bom desfecho e ainda desagradou o apresentador, que se sentiu desconfortável com a presença de uma equipe de Zé Celso para gravar a conversa.
Pouco antes da morte de Zé Celso, em 2023, a briga ainda continuava. Em junho, o dramaturgo se casou com Marcelo Drummond em uma cerimônia realizada no próprio teatro, e os noivos convidaram o dono do SBT, sugerindo como presente a doação do terreno pertencente ao Grupo Silvio Santos.
O intuito de Zé Celso para a região seria transformá-la em uma espécie de parque ou área de convivência. Silvio, por outro lado, ja havia vetado a ideia de doar o local. Até hoje, o impasse continua.
